O Blog de viagens para descobrir Marrocos

Marrocos é uma terra de imaginário, um país rodeado de uma aura mística que nos leva a pensar em imensos desertos de areia dourada, caravanas de camelos, postos perdidos da Legião Francesa, cidades misteriosas, feitas de vielas e mercados repletos de produtos exóticos.

Marrocos é a terra dos mil mistérios, um mundo desconhecido, fascinante, a uma imensa distância cultural do nosso universo mas, contudo, fica já ali, do outro lado do mar. Quem está no sul de Portugal,  na costa do Algarve, estará mais próximo de Tânger do que de Lisboa. Dá que pensar. E talvez seja isso que torna Marrocos tão atraente: com um passo  tão pequeno, percorre-se uma distância tão grande…

Hoje em dia Marrocos é um país com cerca de 34 milhões de habitantes e uma área de 710 mil km2, um pouco menos do que a de Espanha.  A sua história tem largos períodos de soberania, ao contrário do que sucede com os restantes actuais países do Norte de África. Desde que em 789 Idris I fundou o reino de Marrocos que a História se fez de uma sucessão de dinastias e nem  o poderoso Império Otomano nem os invasores portugueses conseguiram subjugar o reino. Foi preciso chegar até 1912 para ver Marrocos subjugado, quando foi sumariamente dividido entre França e Espanha, que ali estabeleceram dois protectorados.

A independência regressou em 1956, com um rei da dinastia Alaouita, que na realidade se encontra ao leme de Marrocos desde a segunda metade do século XVII.

Culturalmente Marrocos é uma interessante mistura, com fortes elementos árabes,  berberes e judeus, a que se juntaram influências da África Subsaariana e europeias, não só pela presença colonial como, de certa forma pela proximidade geográfica.

Esta conjugação oferece ao país características muito próprias, que se reflectem nos seus diversos aspectos culturais. A gastronomia, por exemplo, não tem a forte influência que a presença otomana deixou noutras paragens do mundo muçulmano (e não só) mediterrânico.

As tagines são talvez o prato mais representativo da cozinha marroquina, mas o cuscuz é também uma presença constante, assim como os petiscos à base de lentilhas ou favas, a sopa Harira e os pratos de pastilla, uma espécie de tarte salgada,  tudo isto acompanhado de chá de menta, uma imagem de marca do país. De resto, os produtos tipicamente mediterrânicos estão presentes: tâmaras, azeite, azeitonas e os vegetais comuns desta região, como o tomate e o pepino.

Outra área em que a diversidade cultural marroquina é bem evidente é na música. Não há uma música tradicional de Marrocos mas diversos tipos, com raízes bem distintas: a música do Andaluz, que se encontra difundida por quase todo o Norte de África, é inspirada na criação musical da Ibéria Árabe, ou seja, entre os séculos VIII e XV; o Gnawa, com uma forte componente mística e que é tocada anualmente no grande festival de Essaouira; a música popular Chaabi; o Malhun, que é tocada em Marrocos há mais de mil anos, com a sua suavidade a ecoar nas medinas de todo o país; a música Sufi, criada para conduzir a estados de transe; a música tradicional berbere.

Em Marrocos fala-se árabe e berbere, uma língua que só recentemente foi reconhecida oficialmente, estando agora numa fase de afirmação, com muitas manifestações culturais a serem desenvolvidas neste idioma. Para além das línguas, digamos, nativas, uma boa parte da população fala francês, especialmente os mais jovens e cultos. Cerca de cinco milhões de marroquinos fala um pouco de espanhol, quase todos vivendo na zona norte do país e no sul, ou seja, nas regiões ocupadas por Espanha até à independência.

E porquê que Marrocos é um país tão apetecível para ser visitado? É exótico mas seguro, próximo da Europa, cheio de maravilhas naturais, uma história rica, uma cultura intensa e cheia de tradição. Mas vamos a razões mais práticas…

Para começar, é simples. Para chegar até lá existem voos directos desde Lisboa ou Porto, apesar de não serem muito baratos. Quem precisa gastar pouco, poderá usar os voos de low cost da Ryanair que saem de muitas cidades espanholas, especialmente de Madrid e de Sevilha.  Não é preciso visto para entrar no país, bastando o passaporte.  Depois, é um país bastante seguro, não existindo nem elevadas taxas de crime nem tensões internas que possam ameaçar o turista.

É verdade que algumas épocas do ano deverão ser evitadas: as temperaturas elevadas do pico do Verão tornam quase impossível o usufruto das maravilhas do deserto marroquino e mesmo as famosas cidades imperiais – Rabat, Meknes, Fez e Marrakesh – se tornam em caldeirões de calor que dificilmente podem ser apreciados nesta altura. Mas existe uma vasta faixa do ano que permite uma visita confortável a Marrocos, sendo que o melhor será vir entre Abril e o início de Junho e depois entre Setembro e Outubro.

Claro que tudo isto depende das áreas que planeia visitar. As montanhas podem ser terrivelmente frias no Inverno e ao contrário do que muita gente pensa a queda de neve é frequente, podendo mesmo ocorrer em locais como Fez.  Já a zona costeira, especialmente a ocidente, tende a ser fresca e suportável nos meses quentes de Julho e Agosto, mas também é verdade que a população que se pode movimentar procura as praias oceânicas para se refrescar, tornando-se os locais mais conhecidos, como Essaouira, bastante populosos nesta altura.

A variedade de Marrocos é um dos seus grandes atractivos. A norte, na costa mais próxima da Europa, as influências ocidentais marcaram a região. Ali perto encontra-se Chefchaoen, a maravilhosa cidade azul, onde se conseguem sempre tirar fotografias únicas das ruelas do seu centro histórico, que como o seu nome indica, estão ladeadas de casas todas pintadas de azul, um costume que veio da numerosa comunidade judaica que por ali habitou durante séculos.

Fez, mais para o interior, encontra-se numa linha quase perfeita com Meknes e Rabat, a capital do país. São três das quatro cidades imperiais (a quarta é Marrakesh) e a acessibilidade entre elas é perfeita, podendo o visitante deslocar-se de autocarro ou de comboio.  Todas devem ser visitadas. A medina de Fez é imensa, sendo os tanques dos tintureiros de pele uma das suas grandes referências, assim como as famosas escolas religiosas (madrasas), os mercados, as portas da cidade antiga, as inúmeras fontes decoradas com mosaico e a universidade mais antiga do mundo.

Não muito longe, a caminho de Meknes, existe a aldeia sagrada de Moulay Idriss onde até há pouco tempo era vedado aos não muçulmanos pernoitar e que é uma visita indispensável a quem ande pela região. E também a cidade romana de Volubis, um imenso espaço pejado de ruínas e vestígios desta antiga urbe fundada no século III aC.

Meknes será talvez a menos turística das cidades imperiais. E contudo tem muito para oferecer ao visitante: a sua medina é interessante assim como o são os portões de entrada na cidade antiga. Meknes está repleta de edifícios históricos, como a mesquita da medina, construída em 1350, a madrasa Bou Inania, a antiga prisão subterrânea chamada Habs Qara, o palácio Dar Jamai que agora é um museu de arte e a bonita Place Hedim são apenas alguns exemplos dos atractivos de Meknes.

Junto ao mar, a capital de Marrocos, Rabat, é uma fusão entre modernidade e o antigo Marrocos. A maioria dos pontos de interesse localiza-se no centro histórico, e é impossível oferecer aqui uma lista exaustiva, mas fica uma lista com o essencial: a cidadela, conhecida como kasbah dos Oudaias, a Torre Hassan e o Mausoléu Real, vigiado pela Guarda Real, a medina, a praia e a avenida marginal.

Um pouco mais abaixo, também junto à costa, encontra-se Casablanca, eternizada pelo famoso filme com o mesmo nome, talvez o maior clássico de sempre da história do cinema. Contudo a Casablanca de hoje é diferente, uma cidade predominantemente moderna, com relativamente poucos encantos. Nos dias de hoje é a cidade marroquina com mais população, rondando os quatro milhões de habitantes, sendo considerada a mais progressista e liberal do país.  A não perder:  a mesquita Rei Hassan II, a medina, o passeio marginal, o edifício Mahkama du Pacha, maravilhosamente ornamentado por dentro mas ainda em uso para fins oficiais e cuja visita não é simples.

A sul de Casablanca, a antiga cidade portuguesa de Mazagão, hoje chamada de El Jadida, é um interessante testemunho da presença europeia em Marrocos. O núcleo histórico encontra-se um pouco degradado, mas vale mesmo assim a pena visitar, especialmente pelos vestígios deixados pelos portugueses, como é o caso da fabulosa cisterna de água, para ser consumida em caso de cerco, o bastião de São Sebastião ou a Igreja da Assunção, do século XVI e adornada em estilo manuelino (transformada num hotel de luxo).

O deserto não precisa de apresentações. É  domínio tuaregue, terra inóspita mas fascinante, pontuada com maravilhosos oásis que deram origem a aldeias e pequenas cidades que hoje são autênticos postais ilustrados de Marrocos e onde se realizam alguns dos festivais mais espectaculares do país, como a Festa de Tâmaras de Erfoud, o Tan Tan Moussem  ou o Festival de Cerejas de Sefrou.

No deserto os visitante podem e devem  aventurar-se sozinhos, mas se sentirem mais confortáveis poderão recorrer aos serviços de guias e aos inúmeros programas de tours, talhados para pessoas de todos os perfis e necessidades. Desde incursões rápidas apenas para dar uma ideia fugaz da paisagem e passando por raides de jipe pelas areias escaldantes até estadias de vários dias em inesperados hotéis de luxo no meio do Sahara, tudo se pode arranjar em Marrocos.

As praias não serão o principal chamariz de visitantes a Marrocos, mas mesmo assim há belos locais para refrescar, sentir o mar e nadar. Essaouira, onde se chega com facilidade a partir de Marrakesh, é um bom exemplo, oferecendo ao mesmo tempo um toque de história e de vida local. Asilah (onde no Verão existe um excelente festival de arte urbana), Legzira Plage e Sidi Kaouki são outras possibilidades.

Uma das grandes referências turísticas de Marrocos é Marrakesh e a sua grandiosa praça Jemaa el-Fnaa, onde tudo se passa: espectáculos de malabaristas, lutas de boxe, encantadores de serpentes, contadores de histórias, actuações de dançarinos e muita comida. É o centro de tudo e o local mais fácil de encontrar numa cidade cuja medina é atractiva sem no entanto ter grandes pontos específicos de interesse. As ruelas da chamada “cidade vermelha” , pela tonalidade vermelho-rosa em que as suas casas são obrigatoriamente pintadas, são seguras e pitorescas, apesar de ser necessária alguma atenção aos carteiristas.

Mais para o interior o país torna-se montanhoso, há o Atlas, chega-se às aldeias serranas, a localidades onde o frio e a neve são realidades costumeiras durante o Inverno. Ouarzazate é incontornável neste contexto. Apesar de já ter uma certa dimensão é uma óptima base para explorar este outro Marrocos, em altitude e tem os seus próprios encantos:  o mercado de Domingo, os kasbah (aldeias ou cidades fortificadas), a medina, os estúdios de cinema, que estiveram envolvidos na produção de filmes famosos como Kundun, O Reino dos Céus ou Gladiador. Bem próximo, a cerca de 30 km, fica o ksar Aït Benhaddou, uma magnífica localidade antiga, construída em adobe, que carrega consigo todo o imaginário de Marrocos.

Os mais radicais, amigos de um estilo de viajar ousado, poderão ir até aos territórios do grand sud,  próximo da fronteira com a Mauritânia. A estas áreas poucos turistas chegam. A cidade pesqueira de Dakhla tem mesmo assim boas estruturas e sendo a cidade marroquina mais próxima do país vizinho poderá ser um óptimo ponto de retorno para qualquer volta pelo extremo sul de Marrocos.

A UNESCO tem dado o devido valor a estes locais maravilhosos e Marrocos tem nove sítios inscritos na Lista de Património Mundial da UNESCO: a medina de Fez, a medina de Marrakesh, o  ksar de Ait-Ben-Haddou, Meknes, a cidade romana de Volubilis, a medina de Tétouan, a medina de Essaouira, e a chamada Cidade Portuguesa que tem agora o nome de El Jadida, para além de Rabat.

Create a website or blog at WordPress.com

EM CIMA ↑