Dois Dias em Chefchaouen, Marrocos

Ao pensar num percurso por Marrocos é impensável não incluir Chefchaouen no plano. Localizada a norte do país, próxima de Tetouan e de Tânger, pode também ser alcançada a partir de Fez.

É a “cidade azul”, assim chamada pela cor com que são pintadas quase todas as casas da sua medina, construída numa encosta onde é fácil  um visitante perder-se, em todos os sentidos.

Chefchaouen não  tem nem as dimensões nem a complexidade das chamadas “Cidades Imperiais”, Marraquexe, Fez, Rabat e Meknes, pelo que considero que dois dias serão suficientes para conhecer os encantos da “Cidade Azul” sem grandes pressas e com muito tempo para fotografar  as suas pitorescas vielas.

A cidade de Chefchaouen – ou a “cidade azul”, como também é conhecida – quase que dispensa apresentações. As tonalidades de azul que dominam a sua medina têm origem na numerosa população judia que aqui se estabeleceu na Idade Média, e as fotografias das ruas e casas dominadas pelo azul são sempre de grande impacto. Chega-se a Chefchaouen desde Fez (não é fácil ir e voltar no mesmo dia) ou desde Tetouan ou mesmo Tânger. Para além da medina, visite-se o Kasbah e as quedas de água que se encontram por perto.

Dia 1 em Chefchaouen

Chega-se a Chefchaouen de autocarro cujo terminal se encontra a cerca de 1 km da cidade antiga, mas apesar da distância parecer curta é melhor apanhar um táxi, porque o percurso não é dos mais agradáveis e além disso o caminho a tomar é relativamente íngreme.

A presença de pessoas com intenções menos boas na estação de autocarros é comum. Não aceita ajuda de desconhecidos e evite falar com quem o abordar, mas sem ser rude, claro. Ao procurar um táxi certifique-se que não pagará mais do que 15 Dirham pelo transporte. Quer dizer, pode pagar mais, claro, se não o incomodar e achar que não vale a pena o trabalho, mas será um preço inflacionado para turista.  Se sentir problemas em conseguir um serviço que considere justo, tente afastar-se um pouco da estação e procure um táxi que esteja a passar na altura.

Se sair cedo do seu ponto de origem, seja ele Tetouan, Tânger ou Fez, deverá estar no seu hotel, instalado e pronto para começar a explorar Chefchaouen por volta da hora de almoço.

Como acabou de chegar vou sugerir um local descomplicado e muito procurado pelos viajantes que visitam a cidade: a Pizzeria Mandala, localizada na avenida Hassan II, a poucas centenas de metros da praça principal da medina, a Outa Hammam. É um local acolhedor, onde as pizzas são servidas ao som de jazz. Se se sente preparado para algo mais local, fica o desafio: procure o hotel Yasmina, também próxima da praça. Mesmo ao lado da entrada  verá uma abertura numa parede. Não há nenhum sinal, nenhum cartaz. Nada. Espreite, entre. Lá dentro há apenas seis mesas e os clientes são cem por cento locais. O dono do negócio está a cozinhar. Poder ver com os seus próprios olhos o que há para comer. Por exemplo, um pratinho com batatas fritas preparadas na hora, uma sopa de lentilhas, uma porção de azeitonas e algum pão marroquino, proporcionam uma refeição genuína por menos de 1 Euro. O único problema é que às vezes o proprietário tem outros planos e não abre a “tasca”.

Para depois do almoço sugiro que faça aquilo que na realidade traz até Chefchaouen as pessoas: explore as ruas da medina sem um trajecto fixo. Deixe-se perder, prepare-se para usar muito a câmara fotográfica. Notará algumas particularidades nesta medina. Uma delas é que as pessoas, se falarem um pouco de outra língua para além do árabe será o espanhol, ao contrário do que sucede na maioria do país, onde o francês é comum. Tanto melhor para a maioria de nós, que improvisaremos melhor uma conversação em espanhol do que em francês. Outra característica das pessoas por aqui é a sua simpatia. Não estou a dizer que noutros locais os marroquinos não sejam simpáticos, mas em Chefchaouen há algo de muito positivo no ar. Pela negativa, na “cidade azul” existem uns quantos vendedores de haxixe que são algo aborrecidos e se fizermos algo de errado, podem mesmo tornar-se perigosos. Se encontrar algum destes sujeitos decline educadamente qualquer oferta que lhe seja feita. Sabia que Chefchaouen se encontra no coração da área onde se produz mais haxixe em Marrocos?

Para além de ficar fascinado com o universo azul em que entrará, poderá questionar-se sobre as razões da sua existência. É uma boa pergunta. Porque é que em Chefchaouen e apenas aqui as pessoas pintaram as casas nesta cor? A resposta prende-se com a chegada de refugiados judeus, expulsos de Portugal e Espanha. Foram os judeus Sefarditas, acolhidos na recém-fundada Chefchaouen, que iniciaram a tradição de pintar as casas de azul, como já costumavam fazer na Península Ibérica. A cor fundia-se com o céu e reforçava a presença de Deus nas suas mentes. Há contudo quem diga que foram judeus fugidos da Europa controlada pelos nazis que iniciaram esta tradição.

Ao passear pelas ruas, atente nos detalhes e sobretudo nas portas. Procure o forno comunal, onde as mulheres cozem o pão para as suas famílias. Passeie no mercado e observe as vendedoras que vêm das montanhas carregando os bens que conseguem produzir.

Quando a hora do pôr-do-sol se aproximar vá caminhando em direcção à Mesquita Espanhola, facilmente visível desde quase qualquer ponto da medina. Tem este nome porque foi começada a construir pelos espanhóis quando estes chegaram, nos anos 20 do século passado, mas apenas em 2010 foi concluída e aberta. A parede que se encontra mesmo defronte oferece o assento perfeito para se deliciar com o pôr-do-sol.

Antes do jantar, porque não procurar um dos vários hammam que existem na medina para uma sessão retemperante? Tenha em atenção os horários de abertura, que podem ser irregulares. O melhor é pedir informações ao pessoal do seu hotel.

Quando tiver pronto para comer, vá até ao Babi Soul. Fica próximo da praça principal, numa viela que sai da sua parte mais baixa, após uma curva à direita, verá um letreiro em árabe e inglês a anunciar o restaurante. Se puder, tente pedir a alguém que lhe indique a rua certa. Pode optar entre comer na sala interior, sentado em confortáveis almofadas, ou tomar a refeição no terraço, ao ar livre, o que é ideal se estiver uma noite agradável. A comida é toda excelente e a preços mais do que justos, e ainda pode comprar bolachas e bolos para levar para casa. Se por alguma razão não puder jantar no Babi Soul, logo à frente, na mesma rua, há uma tasca que pode ser um bom plano alternativo.

Dia 2 em Chefchaouen

Se o seu hotel não servir pequeno-almoço ou se preferir experimentar algo diferente, comece o dia no Talambote. Para encontrar este pequeno estabelecimento, vá à praça central e ante em direcção às montanhas. Entre duas lojas existem uma escadas, que vão dar a uma espécie de pátio onde se encontra o Talambote. Abre pelas 7 da manhã e a única coisa disponível é uma deliciosa sopa à base de feijão branca servida com pão e temperada a gosto com o chili e o cominho que está em cima das mesas.  Outra possibilidade para o pequeno-almoço é o café Alkasaba, localizado do lado direito da praça, se estiver a olhar para as montanhas. É frequentado por locais e com 1 Euro enche-se a barriga com pão, ovos cozidos e azeitonas.

Se gostar de mercados e quiser andar um pouco depois da refeição da manhã, existe um mercado fora da medina, no caminho da cidade nova. É daqueles mercados que fascina por parecer ali existir de tudo:  chinelos, DVD’s, todo o tipo de comida, escovas de dentes. Tudo. Ideal para comprar algo para comer se quiser fazer uma refeição própria ou se precisar de abastecimentos para a viagem, mas também se pode lá petiscar. Mas atenção, o mercado não é diário e há alterações frequentes nos dias por isso é melhor perguntar quando estiver em Chefchaouen.

Seja como for pode visitar o Kasbah, a restaurada cidadela de Chefchaouen, que alberga agora um museu etnográfico. Pode desfrutar da frescura do jardim e subir à torre, de onde as vistas sobre a medina são surpreendentes. O bilhete custa 10 Dirham, cerca de 1 Euro.

Quando sentir que chega a hora de almoçar, procure o Granada. Fica a dois quarteirões de distância da praça, subindo-se a colina. Ali, o proprietário faz tudo: recebe os clientes, cozinha e serve as refeições. Ora o senhor é um espectáculo por si, sempre bem-disposto, a rir, cheio de energia. Pode voltar para outras refeições, claro. O Granada teoricamente está aberto para almoços entre as 12 e as 16 e depois para o jantar entre as 18 e as 21. A lista e os preços estão bem visíveis à entrada, em inglês, apesar do simpático dono só falar árabe.

À tarde, procure as quedas de água (cachoeiras) de Ras el Maa. Fica fora de medina, claro, mas não muito longe, chegando-se até pelo portão mais a nordeste, depois de passar a Place du Makhzen. Para além do inesperado de encontrar ali umas quedas de água, o local tem um toque muito pitoresco, porque é usado pelos locais para uma série de actividades, sociais e funcionais, e existe até um café onde poderá descontrair um pouco; o estabelecimento é contudo um pouco caro. Tente encontrar uma mesquita em ruínas, chamada Jemaa Bouzafar, que se encontra ali por perto e proporciona boas fotografias.

Se tiver fome entre refeições pode encontrar facilmente estabelecimentos que vendem “pizza marroquina”, uma base do tipo pizza coberta com uma massa de grão e com molho picante.

Para acabar o dia, pode descansar um pouco numa das diversas esplanadas existentes na praça Plaza Uta el Hamman, ideal para observar pessoas. Uma dica: não se sente nas mesas exteriores, porque ali será abordado frequentemente com propostas de todos os géneros que provavelmente não lhe interessarão.

Poderá jantar mesmo ali, na praça, onde existem bons restaurantes: procure o Cafe Restaurant Sofia ou o Restaurant Beldi Bab Ssour, um pouco mais longe (No 5 Rue El Kharrazin), a cerca de 200m na direcção da cidade nova. São dois dos mais afamados restaurantes de Chefchaouen, onde poderá fechar com chave de ouro esta visita à cidade.

Sugestão Adicional: Jelel El-Kelaa
Se tiver tempo para usar em Marrocos e quiser ficar mais um dia, poderá querer fazer uma caminhada até ao topo de Jelel El-Kelaa, a 1616 metros. Esta montanha que se ergue por detrás de Chefchaouen faz parte do Rif, um sistema  montanhoso que oferece múltiplas hipóteses para o adepto da caminhada em altitude. É puxado, vai precisar de um dia inteiro, mas vale a pena. Se preferir pode encontrar um guia para este passeio, mas não é essencial.

Poderá encontrar aqui indicações muito precisas sobre o percurso. Com elas será praticamente impossível perder-se ou tomar um caminho menos adequado.

Quando Ir a Chefchaouen

Aplica-se aqui o que se pode dizer para todo o país: as melhores alturas para visitar Chefchaouen serão antes e depois do Verão, ou seja, nos meses de Abril e Maio, e Setembro e  Outubro. Contudo a região norte de Marrocos é mais fresca e o calor é mais facilmente suportável nos meses quentes do ano, por isso se só pode vir a Marrocos no pico do verão, Chefchaouen será uma boa escolha.

Onde Ficar em Chefchaouen

Claro que deverá ficar alojado na zona da medina. Existem várias hipóteses, a cidade tem conhecido um aumento considerável no afluxo de turistas e o crescimento do número de estabelecimentos hoteleiros reflecte isso mesmo. Mas deixo-vos aqui duas sugestões que têm em conta a relação entre o preço e a qualidade e a localização.

Hostel Mauritânia

Para ficar em Chefchaouen poderá optar pelo Hostel Mauritânia, uma opção bem económica e contudo com uma localização agradável. O interior é modestamente decorado, mas o que existe é bem enquadrado no estilo tradicional marroquino. Existe um terraço para relaxar e conhecer outros viajantes e os clientes têm estado a deixar boas referências sobre o hostel. Uma cama em dormitório custa aqui apenas 7 Euros por noite enquanto um quarto duplo custa 16 Euros. Estes preços não incluem pequeno-almoço. Mas atenção, as boas opções de alojamento em Chefchaouen tendem a esgotar com bastante antecedência por isso é melhor não deixar para o fim as suas reservas. 

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Hotel Souika

O hotel Souika é mais ou menos da mesma categoria do que o Mauritânia, mas aqui apenas se encontram quartos convencionais, não existindo a opção de dormitório. A localização é excelente, mesmo na medina, mas isto e o preço são mesmo os grandes atractivo do Souika. Não espere um ambiente de qualidade, é mesmo só um local para dormir. O preço de um quarto duplo é de 16 Euros  e se quiser tomar o pequeno-almoço no hotel, deverá pagar mais 2,50 Euros.

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Hotel Koutoubia

Se preferir algum um pouco melhor, sugiro o Hotel Koutobia, onde poderá ficar num quarto duplo por cerca de 30 Euros. No Koutobia a decoração é um pouco mais esmerada, existe um excelente terraço com uma bela vista sobre a medina e a localização é excelente, mesmo junto ao kasbah de Chefchaouen. Aqui o pequeno-almoço está incluído, e de qualquer forma existe serviço de restaurante para refeições mais completas.

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